Então, eu li esse livro nas férias e ele é mais fino que
meu dedo, emprestei ele da biblioteca da escola e passei do dia da devolução,
por isso não posso emprestar livros até maio, apesar dessa morte terrível, a leitura
valeu a pena e vou comentar com vocês. Essa edição é da Companhia das Letras e
tem pouco mais de cem páginas, contém duas novelas de Franz Kafka (escritor com
o qual eu ainda não tivera contato até esse ano) que são O veredito e Na
Colônia Penal.
Eu só me sinto confiante em comentar sobre a segunda
novela então é o que farei já que prefiro falar pouco a falar besteira. Vamos
lá.
Na colônia penal vai contar a história de um procedimento
de tortura realizado num país não mencionado que será observado por um
espectador estrangeiro. O procedimento basicamente consiste em levar o
prisioneiro, que desconhece que será punido e o motivo de sua punição, até uma
máquina que serve para cravar em sua carne o peso de sua infração. Mas como?
Bem, deita-se a pessoa nua numa maca, de bruços, para que assim a máquina possa
usar sua agulha para escrever nas costas do prisioneiro aquilo que se quer
dele, no caso do personagem será escrito a sangue em suas costas “honra o teu
superior”, já que ele foi desobediente. Bem, é desumano pois a pessoa passa por
essa tortura por horas e horas e é alimentada com uma comida horrível durante o
processo.
A maior parte do texto é o oficial que aplicará o castigo
explicando ao estrangeiro a importância do procedimento e preparando a tal
máquina para sua realização, com o tempo percebemos que na verdade pouquíssimas
pessoas na Colônia ainda são a favor dessa tortura, que foi estabelecida por um
antigo Comandante que já faleceu. E o atual comandante, trouxe o estrangeiro
apenas como pretexto para fazer algo que ele já queria fazer :abolir o
procedimento. A tensão dessa novela é grande, não vou contar a vocês se o
prisioneiro desobediente chega ou não a ser torturado pela máquina, se o
estrangeiro observador concorda ou não com a tortura porque estaria estragando
o final surpreendente que a novela tem. É muito bom, gente. É ler e ficar em
posição fetal refletindo sobre a humanidade. Aos que não leram, parem de ler
por aqui pois daqui pra frente é só spoiler.
·
Interpretações pessoais (com spoilers):
Eu
consegui enxergar um bocado de simbolismo nessa obra. Consegui associar a
máquina com a ideia materializada de que a noção de bem pode ser imposta a um
individuo violentamente desde que seja por ação de um Estado. No decorrer do
texto somos informados de que o uso da tortura já passou a ser visto como uma
ideia obsoleta pela maioria das pessoas e que só persistia pela vontade do
oficial, uma pessoa comum mas que possui autoridade conferida por sua patente.
Quando o oficial é morto pela máquina, que configurou pra que escrevesse “seja justo”
em sua costa, vemos que a máquina pifou porque a justiça não pode ser aplicada
por um mecanismo ideológico arcaico além do mais, a agulha perfura de tal forma
o corpo do oficial que percebemos que a cena se torna quase um homicídio, logo, deduz-se que há
uma linha tênue entre tortura realizada pela lei e assassinato criminoso.
Além disso podemos concluir que ideologias violentas e
ultrapassadas podem matar de forma cruel disfarçadas de justiça. A cena final
da novela é o estrangeiro indo visitar o túmulo do antigo comandante que o
oficial idolatrava, o criador da máquina de tortura, e descobrindo que reza uma
lenda de que um dia o comandante ressuscitará e guiará novamente a lei na
Colônia, quando tiver novamente um número considerável de adeptos a suas
ideias. O que isso de fato quer dizer? Que embora a ideia de tortura esteja
sendo enterrada dentro daquela sociedade, isto é um fato temporário, visto que
dependendo da época e do número de pessoas que apoiem, uma ideia sempre pode
ressurgir dos mortos. Como eu disse, só nos resta deitar em posição fetal e
refletir sobre a justiça humana que achamos existir como conceito absoluto e
eterno.
Resenha por Joranny