sábado, 7 de outubro de 2017

O Pagador de Promessas - Dias Gomes

O que falar dessa obra? Certamente eu devia ter lido antes pois é estupenda. O Pagador de Promessas é uma peça que foi escrita por Dias Gomes (o mesmo autor de O Bem Amado que inclusive é um texto que já teve adaptações pra novela e cinema) e conta a trágica história de Zé do burro. Esta edição da foto é da Bertrand Brasil e minha amiga me emprestou já toda animada e praticamente me empurrando o livro porque queria ter alguém pra comentar. haha
Não vou negar, ás vezes eu me sinto culpada pelo tanto de obras boas que eu ainda não li mas o fato é que teoricamente ainda sou jovem (metade de 40 anos) e tenho tempo pra ler muita  coisa, de certo isso alivia um pouco minha insegurança como leitora. E sim, foi muito bom ter conhecido esse texto esse ano.

Esta peça vai contar a história de um homem simples e ingênuo do campo apelidado Zé do Burro que está se dirigindo á uma cidade da Bahia, para a igreja de Santa Bárbara para pagar uma promessa que fez. Zé do Burro prometera á santa que se ela lhe concedesse a cura de seu burro e melhor amigo chamado Nicolau, ele iria carregar uma cruz de madeira bem pesada nas costas, de sua roça até a cidade, e colocá-la dentro da Igreja. Tudo parece simples até aí mas não seria genial se não houvesse um conflito não é mesmo?

Chegando na cidade com a esposa Rosa que o acompanhou no percurso, ele se depara com gente interesseira de todo tipo além de gente intolerante para com seu erro quanto á promessa. O erro é o seguinte: Zé simplesmente associou a imagem de Santa Bárbara com a de Iansã e fez a promessa num terreiro de Candomblé. A gente sabe que no Brasil esse tipo de associação é muito comum pois a fé do povo brasileiro é marcada pelo sincretismo religioso. Porém o Padre simplesmente não o deixa entrar na igreja e o acusa de blasfemador dentre outras coisas. Por Zé ter dividido sua terra com os mais pobres como parte da promessa, ele ainda passa a ter sua figura deturpada por um certo jornalista que aparece do nada e já o legitima como apoiador da reforma agrária mesmo sem o coitado fazer ideia do que é isso, toda essa agitação logo vai chamar a atenção da polícia local que vai enxergar o pobre do Zé como perturbador da ordem.

Sua mulher até gosta dele mas se deixa seduzir pelo charlatão da história chamado Bonitão, que explora moças que são prostitutas como a personagem Marli que tem uma verdadeira adoração por ele e ciúmes.O Zé do Burro vai passar por muitas dificuldades simplesmente por querer cumprir uma promessa (coitado!) e apesar de ser barrado na igreja, caluniado por alguns e traído pela mulher, ele ainda vai conhecer gente bacana que tenta ajudá-lo em sua jornada. Essa gente vem justamente da margem social, a exemplo de Minha Tia que é a personagem que lhe oferece um terreiro para que possa pagar a promessa e ir pra casa.

A maioria da história se passa em uma praça que se localiza de frente pra igreja de Santa Bárbara e acoplada a duas ruas por onde os personagens saem e entram. Eu fiquei imaginando durante toda a leitura como o cenário ficaria montado num teatro e triste por não poder assistir encenado pessoalmente. haha

Como falei no início, o final de Zé do Burro é trágico mas no percurso há vários momentos engraçados. É uma peça bastante humana e por isso mesmo mexe com o coração de quem lê. O povo brasileiro tem sua face escancarada em poucos diálogos e cenas e a obra é atemporal porque a intolerância religiosa, abuso de poder e charlatanismo não são próprios dos anos 60 , momento em que a peça foi encenada pela primeira vez, mas persistem até hoje em nossa sociedade.

Com certeza é uma obra incrível e super recomendo. :)

BY: Joranny