Esse ano eu fiquei bastante desanimada
pelo fato de o teclado do meu pc ter pifado, por isso o ritmo das publicações
diminuiu e como vocês puderam perceber nem publiquei nada em fevereiro. Tudo
isso porque agora tudo ficou mais trabalhoso, preciso primeiro digitar o texto
no celular, depois passo pro pc e copio no blog (ufa, tô cansada só de explicar
o processo!). Mas vamos sobreviver e mais importante: eu não estive parada
nesse tempo. Eu li bastante e vou dar um jeitinho de atualizar as resenhas.
Então vamos voltar dessa pausa no blog
em grande estilo, com a resenha desse livrão maravilhoso que é Crime e Castigo.
Bem, Crime e Castigo é uma obra do escritor
russo Fiódor Dostoievski e é considerada um dos maiores romances da literatura
universal. O livro vai nos contar a história do jovem Rodion Romanovitch Raskolnikov (Rodka) que devido á sua condição
miserável precisou largar os estudos na universidade; tudo que cerca
Raskolnikov inala miserabilidade, ele vive num ambiente insalubre, come mal e
se veste mal, além disso depende da ajuda financeira de sua mãe e irmã, esta
tendo que se submeter a um casamento indigesto apenas para ajudar a família. Raskolnikov
percebe logo de cara o caráter do noivo de sua irmã Avdótia Romanovna (Dúnia ou Dunietchka), o malvado Lújin só visa desposar Dúnia para a ter praticamente
como sua subordinada, ele acha que por Dúnia ser pobre vai ter para com ele uma
gratidão imensurável por ele a ajudar financeiramente e logo, obedecerá a
qualquer capricho seu, mas ele só não conta com a personalidade forte de sua
noiva e do próprio irmão dela que ameaça jogá-lo da escada (Não adianta
reclamar de spoiler quando o livro é do século XIX).
O único jeito de salvar Dúnia desse casamento
por obrigação e voltar a ter as condições básicas para retomar os estudos é
arrumar uma boa quantia o mais rápido possível, mas como? É partindo daí que a trama
fica realmente diferente das demais, pois o nosso personagem principal e
intelectual monta uma teoria para justificar o modo como pretende conseguir o
dinheiro, ou seja, assassinar uma velha agiota chamada Alióna Ivanovna para roubá-la. A teoria consiste em que alguns
indivíduos estão isentos das normas morais impostas a sociedade em geral pois são
excepcionais e podem ditar suas próprias regras mesmo que precisem “passar por
cima de um cadáver”, e na verdade por que matar a velhota malvada e agiota (que até
maltrata a própria irmã meio idiota, Lisavieta)
seria errado se após isso ele iria usar a quantia roubada para praticar boas
ações? É neste momento que temos contato com uma perigosa indagação que fere
nosso âmago e abala nossas certezas: Um crime pode ser justificado se for
cometido em prol de um bem maior? Segundo a mente de Rodion, a conclusão é
irrefutável: sim! Então ele se toma por um indivíduo que possui o poder para se
sobrepor ás normas sociais e acaba assassinando a velha a machadadas, mas justo
nessa hora a irmã dela, Lisavieta, acaba aparecendo e Raskolnikov não vê saída
a não ser matá-la também (Tenho que destacar que a descrição dessa cena dos assassinatos me deu arrepios e o modo como
ele sai da cena do crime também é um momento incrível de se ler ).
Mas depois das mortes que ele próprio
racionalmente justificou, tudo começa a dar errado. Por que ele, Rodion, um
homem com a mente superior aos demais homens, se sente culpado por um crime que
nada mais é do que “remover um pequeno empecilho” de sua vida? Por que a febre,
os desmaios, os calafrios, os tremores e os delírios? A carne está rejeitando
aquilo que sua mente tinha aceitado como correto, isso é o que lhe causa mais
sofrimento: não o fato de ter matado mas sim o fato de ter matado um “piolho”
como Alíona que nada acrescenta na sociedade e se sentir culpado. O sofrimento
vem do fato de ele duvidar de sua grandeza e não das mortes em si.
Logo que Raskolnikov adoece por conta de seu estado
perturbado de espírito, seu amigo da época da faculdade, Dmitri Procofith Razumikhín, vai em seu socorro e se torna uma
figura impossível de não amar. Prestativo, simplório, engraçado do tipo que se
apaixona por Dúnia logo que a vê e ainda por cima bêbado, ele tem um carisma que
é só dele. Razumikhin é amigo também do detetive que está investigando o caso
da morte da agiota, Porfíri, que com sua aparência afeminada e seus sorrisinhos
e piscadelas vai encurralando Rodion num cerco onde todas as batalhas são
psicológicas, um sempre tentando prever o próximo passo do outro (e Razumikhin
no meio disso tudo sem nem suspeitar que Rodion é o assassino, ele prefere
acreditar que o amigo endoidou um pouco já que passou até a destratar Dúnia e a
mãe Pulkhiéria).
Logo nos primeiros capítulos, pouco antes de
Rodion assassinar a agiota e sua irmã, ele entra em um bar e trava uma breve
conversa com um bêbado chamado Marmieladov,
cuja situação também é miserável já que o dinheiro com o qual ele deveria
sustentar sua esposa e seus quatro filhos ele gasta tudo em bebida. Sua filha
mais velha, Sônia Marmieladovna
(Sonietchka) foi obrigada a se prostituir para ajudar a família que o pai
praticamente abandonou. Quando Marmieladov morre, Ralkolnikov toma certa
responsabilidade por olhar a família do bêbado que ele já considera um amigo
mesmo só tendo conversado com ele uma vez (as contradições de Rodion são
visíveis, ao mesmo tempo que ele é capaz de assassinar, ele também é muito
generoso). Mais tarde Rodion acaba se aproximando mais de Sônia por
considerá-la uma igual a ele, pois a mesma também abandonou as normas morais
visando um bem maior.
Outro incidente que ocorre é Dúnia ter
sido assediada em seu antigo emprego, uma espécie de governanta, por Svidrigailov
um homem que é mal falado por todos como corrupto e assassino. O livro inteiro
é repleto de duplos e ao estilo de Dostoievski, cada personagem tem múltiplos
nomes, mas logo nas primeiras páginas nos acostumamos. A descrição é muito
envolvente e é impossível largar ou ler apenas um capítulo por dia! Eu li a
edição que foi traduzida por Natália Nunes e Oscar Mendes, não entendo muito de
traduções, dizem que a melhor é da Editora 34 mas eu simplesmente amei a edição
da L&PM pocket, eu tenho um amor muito grande por essas edições de bolso e
pelas suas capas. Hehe
Esse livro é muito mais do que apenas os
conflitos de seus personagens, a gente acaba se envolvendo com a mentalidade do
herói-vilão e entramos em conflito com nós mesmos e com nossas certezas
pré-estabelecidas. Se você ler esse livro e sair ileso, você leu errado. É um
romance peterburguês, foca no centro urbano miserável que era a cidade na época
do autor,1866, ao contrário de Irmãos Karamazov que perpassa por paisagens
mais amplas da Rússia mas acho que o fato de Crime e Castigo se passar no
ambiente do verão peterburguês só contribui mais ainda para ampliar a sensação
de sufocamento que experimentamos da primeira á última página. É magistral, uma
das melhores coisas que já li e que com certeza irei reler. O processo de
redenção de Raskolnikov e os diálogos com densa carga filosófica são
imperdíveis!
Obs: para os desinformados, Dostoiévski era contra os
ideais niilistas mas em momento algum ele prega apenas um ponto de vista, o
romance é polifônico (contado por várias vozes) justamente pra que possamos
escolher qual ideia mais nos apetece, algo que vem da genialidade do escritor.
Resenha por Joranny >u<
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