sábado, 17 de março de 2018

Crime e Castigo / Fiódor Dostoiévski



Esse ano eu fiquei bastante desanimada pelo fato de o teclado do meu pc ter pifado, por isso o ritmo das publicações diminuiu e como vocês puderam perceber nem publiquei nada em fevereiro. Tudo isso porque agora tudo ficou mais trabalhoso, preciso primeiro digitar o texto no celular, depois passo pro pc e copio no blog (ufa, tô cansada só de explicar o processo!). Mas vamos sobreviver e mais importante: eu não estive parada nesse tempo. Eu li bastante e vou dar um jeitinho de atualizar as resenhas. 


Então vamos voltar dessa pausa no blog em grande estilo, com a resenha desse livrão maravilhoso que é Crime e Castigo. 


Bem, Crime e Castigo é uma obra do escritor russo Fiódor Dostoievski e é considerada um dos maiores romances da literatura universal. O livro vai nos contar a história do jovem Rodion Romanovitch Raskolnikov (Rodka) que devido á sua condição miserável precisou largar os estudos na universidade; tudo que cerca Raskolnikov inala miserabilidade, ele vive num ambiente insalubre, come mal e se veste mal, além disso depende da ajuda financeira de sua mãe e irmã, esta tendo que se submeter a um casamento indigesto apenas para ajudar a família. Raskolnikov percebe logo de cara o caráter do noivo de sua irmã Avdótia Romanovna (Dúnia ou Dunietchka), o malvado Lújin só visa desposar Dúnia para a ter praticamente como sua subordinada, ele acha que por Dúnia ser pobre vai ter para com ele uma gratidão imensurável por ele a ajudar financeiramente e logo, obedecerá a qualquer capricho seu, mas ele só não conta com a personalidade forte de sua noiva e do próprio irmão dela que ameaça jogá-lo da escada (Não adianta reclamar de spoiler quando o livro é do século XIX).

O único jeito de salvar Dúnia desse casamento por obrigação e voltar a ter as condições básicas para retomar os estudos é arrumar uma boa quantia o mais rápido possível, mas como? É partindo daí que a trama fica realmente diferente das demais, pois o nosso personagem principal e intelectual monta uma teoria para justificar o modo como pretende conseguir o dinheiro, ou seja, assassinar uma velha agiota chamada Alióna Ivanovna para roubá-la. A teoria consiste em que alguns indivíduos estão isentos das normas morais impostas a sociedade em geral pois são excepcionais e podem ditar suas próprias regras mesmo que precisem “passar por cima de um cadáver”, e na verdade por que matar a velhota malvada e agiota (que até maltrata a própria irmã meio idiota, Lisavieta) seria errado se após isso ele iria usar a quantia roubada para praticar boas ações? É neste momento que temos contato com uma perigosa indagação que fere nosso âmago e abala nossas certezas: Um crime pode ser justificado se for cometido em prol de um bem maior? Segundo a mente de Rodion, a conclusão é irrefutável: sim! Então ele se toma por um indivíduo que possui o poder para se sobrepor ás normas sociais e acaba assassinando a velha a machadadas, mas justo nessa hora a irmã dela, Lisavieta, acaba aparecendo e Raskolnikov não vê saída a não ser matá-la também (Tenho que destacar que a descrição dessa cena  dos assassinatos me deu arrepios e o modo como ele sai da cena do crime também é um momento incrível de se ler ).


Mas depois das mortes que ele próprio racionalmente justificou, tudo começa a dar errado. Por que ele, Rodion, um homem com a mente superior aos demais homens, se sente culpado por um crime que nada mais é do que “remover um pequeno empecilho” de sua vida? Por que a febre, os desmaios, os calafrios, os tremores e os delírios? A carne está rejeitando aquilo que sua mente tinha aceitado como correto, isso é o que lhe causa mais sofrimento: não o fato de ter matado mas sim o fato de ter matado um “piolho” como Alíona que nada acrescenta na sociedade e se sentir culpado. O sofrimento vem do fato de ele duvidar de sua grandeza e não das mortes em si.


Logo que Raskolnikov adoece por conta de seu estado perturbado de espírito, seu amigo da época da faculdade, Dmitri Procofith Razumikhín, vai em seu socorro e se torna uma figura impossível de não amar. Prestativo, simplório, engraçado do tipo que se apaixona por Dúnia logo que a vê e ainda por cima bêbado, ele tem um carisma que é só dele. Razumikhin é amigo também do detetive que está investigando o caso da morte da agiota, Porfíri, que com sua aparência afeminada e seus sorrisinhos e piscadelas vai encurralando Rodion num cerco onde todas as batalhas são psicológicas, um sempre tentando prever o próximo passo do outro (e Razumikhin no meio disso tudo sem nem suspeitar que Rodion é o assassino, ele prefere acreditar que o amigo endoidou um pouco já que passou até a destratar Dúnia e a mãe Pulkhiéria). 


      Logo nos primeiros capítulos, pouco antes de Rodion assassinar a agiota e sua irmã, ele entra em um bar e trava uma breve conversa com um bêbado chamado Marmieladov, cuja situação também é miserável já que o dinheiro com o qual ele deveria sustentar sua esposa e seus quatro filhos ele gasta tudo em bebida. Sua filha mais velha, Sônia Marmieladovna (Sonietchka) foi obrigada a se prostituir para ajudar a família que o pai praticamente abandonou. Quando Marmieladov morre, Ralkolnikov toma certa responsabilidade por olhar a família do bêbado que ele já considera um amigo mesmo só tendo conversado com ele uma vez (as contradições de Rodion são visíveis, ao mesmo tempo que ele é capaz de assassinar, ele também é muito generoso). Mais tarde Rodion acaba se aproximando mais de Sônia por considerá-la uma igual a ele, pois a mesma também abandonou as normas morais visando um bem maior. 


Outro incidente que ocorre é Dúnia ter sido assediada em seu antigo emprego, uma espécie de governanta, por Svidrigailov um homem que é mal falado por todos como corrupto e assassino. O livro inteiro é repleto de duplos e ao estilo de Dostoievski, cada personagem tem múltiplos nomes, mas logo nas primeiras páginas nos acostumamos. A descrição é muito envolvente e é impossível largar ou ler apenas um capítulo por dia! Eu li a edição que foi traduzida por Natália Nunes e Oscar Mendes, não entendo muito de traduções, dizem que a melhor é da Editora 34 mas eu simplesmente amei a edição da L&PM pocket, eu tenho um amor muito grande por essas edições de bolso e pelas suas capas. Hehe


Esse livro é muito mais do que apenas os conflitos de seus personagens, a gente acaba se envolvendo com a mentalidade do herói-vilão e entramos em conflito com nós mesmos e com nossas certezas pré-estabelecidas. Se você ler esse livro e sair ileso, você leu errado. É um romance peterburguês, foca no centro urbano miserável que era a cidade na época do autor,1866, ao contrário de Irmãos Karamazov que perpassa por paisagens mais amplas da Rússia mas acho que o fato de Crime e Castigo se passar no ambiente do verão peterburguês só contribui mais ainda para ampliar a sensação de sufocamento que experimentamos da primeira á última página. É magistral, uma das melhores coisas que já li e que com certeza irei reler. O processo de redenção de Raskolnikov e os diálogos com densa carga filosófica são imperdíveis!


Obs: para os desinformados, Dostoiévski era contra os ideais niilistas mas em momento algum ele prega apenas um ponto de vista, o romance é polifônico (contado por várias vozes) justamente pra que possamos escolher qual ideia mais nos apetece, algo que vem da genialidade do escritor.

Resenha por Joranny >u<


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