terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Literatura Brasileira - Gonçalves Dias

O Romantismo em geral foi caracterizado como sendo um movimento de reação as ideologias e as regras adotadas nas composições clássicas. Enquanto o classicismo exigia uma poesia impessoal, equilibrada, com objetividade e clareza, o Romantismo utilizava em abundancia os sentimentos, a subjetividade e pessoalidade, retratando um homem não mais moralista e disciplinado, e sim, um individuo instável e sem preocupações morais. Dessa forma, observamos que a poesia de Gonçalves Dias apresenta uma linguagem simples e acessível, repleta de musicalidade e ritmos perfeitos. 


I-Juca-Pirama
IV
'Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi:
Sou filhos das selvas,
Nas selvas cresci; 
Guerreiros, descendo
Da tribo Tupi. 

Da tribo pujante,
Que agora anda errante 
Por fado inconstante,
Guerreiro, nasci:
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte;
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.

[...] Andei longas terras,
Lidei cruas guerras,
Vaguei pelas serras 
Dos vis Aimorés;
Vi lutas de bravos,
Vi fortes - escravos! 
De estranhos ignavos
Calcados aos pés.'
Outra característica do Romantismo é o enfoque no individuo. Analisamos esse individuo como uma personagem que tem necessidade de fugir da realidade, pois o mesmo está deslocado dentro da sociedade. Dessa forma, os autores brasileiros fazem uma volta ao passado, valorizando nossa cultura antes da chegada dos europeus. A valorização da natureza, que se torna um refugio para os angustiados, também é uma característica  desse primeiro momento.

Canção do Exílio
"Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas tem mais flores,
Nossos bosques tem mais vida,
Nossa vida mais amores.

[...] Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem que inda aviste as palmeiras,
Onde Canta o Sabiá."

O índio é visto neste momento como um ser idealizado, sendo considerado "bom selvagem". Ele foi utilizado por ser um antepassado autentico, isto é, não tem influencia européia e retrata tipicamente nossa cultura. Porém, como foi dito anteriormente, o índio era uma figura idealizada, com uma caráter louvável e atitudes heroicas. 

Leito de Folhas verdes
"[...] Sejam vales ou montes, lago ou terra,
Onde quer que tu vás, ou dia ou noite,
Vai seguindo após ti meu pensamento;
Outro amor nunca tive: és meu, sou tua!

Meus olhos outros olhos nunca viram,
Não sentiram meus lábios outros lábios,
Nem outras mãos Jatir, que não as tuas
A arazoia na cinta me apertaram."

Olhos Verdes
São uns olhos verdes, verdes,
Uns olhos de verde-mar,
Quando o tempo vai bonança;
Uns olhos cor de esperança,
Uns olhos por que morri;
Que ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!

Como duas esmeraldas,
Iguais na forma e na cor,
Têm luz mais branda e mais forte,
Diz uma - vida, outra - morte;
Uma - loucura, outra - amor.
Mas ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!

[...] Como se lê num espelho,
Pude ler nos olhos seus!
Os olhos mostram a alma,
Que as ondas postas em calma
Também refletem os céus;
Mas ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!"

Meu anjo, escuta
Se alguém se aflige de te ver chorosa,
Se alguém se alegra com um sorriso teu,
Se alguém suspira de te ver formosa
O mar e a terra a enamorar e o céu;
Se alguém definha
Por amor teu,
Sou eu, sou eu, sou eu!



terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Visões Noturnas - Maurício Caldeira

VISÕES NOTURNAS - MAURÍCIO CALDEIRA

Oi pessoal, tem mais livro de terror nacional pra gente conversar por aqui (hehe)! Visões noturnas é um livro de contos escrito por Maurício Caldeira, ele reúne um bom toque sobrenatural e realmente me surpreendeu. Pra início de conversa eu não conhecia o autor e sim amigos, comprei o livro pela capa em uma feira do livro que houve no meu estado. Eu lembro que achei a capa muito bonita, especialmente porque me lembrou um mausoléu e como eu gosto de terror, arrisquei levar pra casa; li em uma semana nas idas e vindas da faculdade de ônibus. Duas coisas a acrescentar: além de leitura fácil, você acaba não conseguindo largar o livro até acabá-lo. Os contos são interligados e as histórias se passam na sombria  e misteriosa cidade de Monserrat, onde acontecem vários acontecimentos bizarros. O que eu mais gostei no livro foram as referências que o autor faz a bandas de rock como Ramones e a outras obras de terror( por exemplo filmes), assim como a estrutura complexa e introspectiva de algumas histórias que simplesmente fogem do clichê (como no conto A casa da infância). Eu gosto bastante do terror psicológico abordado no livro, o medo não só do sobrenatural  mas de temas fúnebres como a morte, a passagem do tempo e o mau proveito da vida, a culpa por atos passados de violência,etc...
       Eu simplesmente adorei o fato de os personagens de diferentes contos interagirem, um bom exemplo é uma história sendo narrada enquanto outra está ocorrendo simultaneamente no mesmo ambiente, e também a sensação familiar que tive ao ler um conto chamado Embaixo da cama (realmente a influência que o autor teve do Lovecraft foi nítida, o nojo que senti ao ler a descrição das criaturas foi o mesmo que senti ao ler alguns dos contos do autor). Eu li este livro em 2016, mas ele foi publicado pela primeira vez em 2013 pela editora Novos Talentos da literatura brasileira. Achei a leitura muito agradável e recomendo pra todos aqueles que gostam de histórias sombrias que envolvem desde um looping pós morte, brinquedos demoníacos e anjos da morte, até torturas aplicadas pela máfia a um devedor de dívidas. Os meus contos preferidos desta obra são A viagem, Como uma pedra, Lado B e O centenário. Muito bem escrito, isso prova que devemos dar uma chance para os novos autores brasileiros e que pode-se fazer um obra muito boa em  menos de 400 páginas. Espero que tenham gostado da resenha, até mais! :)

Nota: 4/5

Resenha por : Joranny

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

O Vilarejo - Raphael Montes

                                                 
O VILAREJO - RAPHAEL MONTES
Hoje vou falar sobre esse livro que honestamente me fez ter pesadelos e muitos arrepios enquanto lia, logo como um ótimo livro de terror, ele cumpriu a sua missão. O vilarejo é um livro de contos escrito por Raphael Montes e publicado em 2015 pela editora Suma das Letras. O autor já é um dos grandes nomes do terror nacional e nesse livro ele apresenta por meio de seus personagens o potencial maléfico do homem, expondo através dos sete pecados, e sua ligação com os personagens, até onde a crueldade humana  pode chegar. Eu gosto bastante desse tipo de terror com menos toque sobrenatural, porque quanto mais uma história parece real, mais assustadora se torna pra mim. Diversas sensações poderão ser experimentadas pelo leitor desse livro, nojo, repulsa, raiva, horror e principalmente medo.

Os contos de O vilarejo são interligados, pois se passam no mesmo ambiente e os personagens são vizinhos, alguns dos contos se passam em épocas diferentes mas mesmo assim vemos a ligação nítida entre eles. O autor se utiliza ao compor a história, da personificação dos sete pecados capitais por meio dos personagens, inclusive o nome de cada capítulo corresponde ao nome do demônio que é responsável pelo determinado pecado capital que será evidenciado na história. Logo, temos Asmodeus(luxúria), Belzebu(gula), Mammon (ganância), Belphegor(preguiça), Azazel(ira), Leviatã(inveja) e Lúcifer(orgulho). 

As histórias contêm estupro, canibalismo, racismo, assassinato, maus tratos a idosos e crianças, entre outras coisas que evidenciam o que há de pior em uma sociedade representada pelos habitantes de um vilarejo coberto por neve e esquecido no tempo durante uma guerra. A necessidade acaba com a humanidade das pessoas e liberta seus instintos animalescos levando-as pelo caminho do mal. Histórias como a de uma esposa preparando um jantar para seu marido, uma avó fazendo economias e uma irmã com inveja da outra por ter um namorado, tornam-se sombrias dentro do universo criado por Raphael e o final da história torna o livro ainda mais perfeito e realmente nos faz refletir durante um bom tempo sobre a origem do mal nos corações humanos. Pra quem gosta de literatura com uma pegada naturalista, como eu, é uma ótima pedida. Outros livros do autor são Jantar Secreto e Suicidas. Em breve teremos mais resenha de terror nacional por aqui pessoal! <3

Bem, é isso! Espero que tenham gostado e que leiam também essa obra! Até a próxima!




Por: Joranny :3

Anime: ReLIFE


Autor: Yayoi Sou
Gênero: Comédia, Drama, Romance, Vida Escolar

Kaizaki Arata é o personagem principal do anime. A história é a seguinte: Um adulto de 27 anos que cursou a faculdade e conseguiu um emprego desejável em uma empresa, mas ao começar a trabalhar ele enxergou os “problemas” dessa instituição. Era um emprego explorador e com muitos conflitos internos, tanto que sua tutora acabou se suicidando. Após isso, Kaizaki fica com trauma e, revoltado com as injustiças, pede demissão.  Mas essa foi uma atitude que mudou drasticamente sua vida. O seu currículo ficou “sujo” por causa disso e ele nunca mais conseguiu um emprego decente de novo. Kaizaki então foi incluído no grupo do NEETs, pessoas reclusas na sociedade.

No primeiro episódio acompanhamos Kaizaki mentindo para os antigos amigos dizendo que tem um emprego maravilhoso e que já estava “pendurado” nele. Coitado, o pobrezinho teve vergonha de contar a verdade. No caminho para casa recebe uma ligação da mãe e ganha a notícia de que ela não poderá mais ajudá-lo financeiramente. Sem a ajuda da mãe e sem um emprego remunerado, Kaizaki chegou no fundo do poço. É nesse momento que aparece Yoake Ryo, um jovem que diz trabalhar para o Laboratório ReLIFE e que deseja fazer um experimento com ele. Adivinhem qual é o experimento? Kaizaki terá que tomar uma pílula, sendo que esta o fará voltar a ter 17 anos. Ele então irá novamente para o colegial, mais precisamente para o 3º ano do Ensino Médio, e assim terá que frequentar a escola todos os dias durante um ano. Em troca, a ReLIFE se comprometerá a pagar todas as suas despesas e no final do experimento, dependendo do resultado, ela poderá fornecer um emprego ao Kaizaki. 

Bem, eu não sei se a ideia principal chama muito atenção. A minha amiga Joranny disse que era um pouco “sessão da tarde”. Sei que ele não é um estilo “descontraído” ou que faz muito sucesso, mas é uma história que chega a emocionar e consegue arrancar boas risadas. Tipo, o primeiro dia de aula do Kaizaki eu achei muito engraçado, ele estava totalmente deslocado e deu muita mancada. Ele sentiu dificuldades, ficou de recuperação várias vezes, teve que fazer aula de educação física [outra cena hilária, pois apesar de ter se transformado em adolescente, o corpo dele apresenta as mesmas dificuldades de uma pessoa de 27 anos], mas também foi uma forma de superação, ou melhor, de recomeço. Kaizaki aprendeu muito com essa nova chance que foi lhe dada. 

Tem outros personagens na história como Hishiro Chizuru: uma garota bastante inteligente, mas que tem problemas para se enturmar. No anime também acompanhamos a evolução dessa personagem. [Na verdade, acho que ela e o Kaizaki formavam um belo casal S2]. Temos também a Kairu Rena, o Oga Kazuomi e a Onoya An. Enfim, nem posso falar muito sobre esse anime porque ele só tem 13 episódios. [Se começar a dar spoiler, conto todos os detalhes do enredo. Amo spoiler. Huhuhu]. Mas, para não dizerem que dei pouca atenção para ele, vou compensar colocando bastante imagens que achei interessante. 

Ps:Outra coisa que achei super legal foi relacionado com os encerramentos.  Cada episodio tem uma musica diferente. Quanto a arte do anime, podem ficar tranquilos: ela é maravilhosa. Tem gente que as vezes me chamam de fresca, mas odeio assistir animes que não são bem desenhados. 

Bem, esse foi o primeiro anime recomendado aqui no blog. Espero que vocês, prezados leitores, possam assisti-lo. Logo, logo tem mais recomendações. 

Por Camila =0 









segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

O Oceano no Fim do Caminho - Neil Gaiman


Então pessoal, hoje a gente vai falar sobre esse livro incrível que o Neil Gaiman nos deu de presente. O livro faz uma viagem até a infância do protagonista e descreve suas aventuras e desventuras com uma amiga que fez durante esta época e com a família dela. O personagem principal não tem um nome (mais tarde falarei de uma curiosidade sobre isto) e a história é narrada pelo seu ponto de vista. A história se inicia com o personagem principal, com quase 40 anos, contando que sofreu uma grande perda e para escapar um pouco do ambiente fúnebre em que a casa de seus familiares se encontra em decorrência do velório , ele resolve dar um passeio pelos arredores de carro, até que se pega tomando o caminho que levaria a sua antiga casa, a moradia onde passou parte de sua infância. Ele sabe que sua casa provavelmente não se encontra mais lá, mesmo assim continua seu passeio digamos assim, até ir por um caminho onde se encontra  a casa da amiga que fizera na infância que iremos conhecer mais tarde. Como eventualmente tudo se transforma com o tempo, ao entrar na casa de sua antiga amiga ele se depara apenas com a mãe dela, que lhe recebe de uma maneira aconchegante e deixa que ele visite o lago atrás da casa que sua amiga costumava falar e o convenceu mais tarde de que era um oceano. É a partir deste momento em que realmente a parte de aventura da história nos é narrada, logo percebemos que toda a história nos é contada por esse homem enquanto ele lembra dos acontecimentos contemplando o lago. O diferencial logo se nota a partir daí, sabemos que tudo já aconteceu há muito tempo desde o início da narrativa.

Quando criança o personagem principal era bastante introspectivo e gostava de ler livros de fantasia, a família dele era formada por pai, mãe e uma irmã e um dos quartos de sua casa era alugado a diferentes pessoas ( que ele observava muito atentamente durante essa época). A residência era localizada em uma espécie de interior, daqueles onde os quintais são amplos e os vizinhos moram longe uns dos outros. A vida ia seguindo de uma forma tranquila até o dia em que um dos inquilinos, deste quarto na casa do protagonista, falece e seu corpo é achado pelas redondezas perto da casa de sua futura amiga Lettie Hempstock; ele e o pai chegam ao local e se deparam com o cadáver do homem dentro de um carro, o garoto fica impressionado com a cena sendo afastado do local pela garota Lettie, poucos anos mais velha que ele. Ela o leva para casa e o apresenta para o restante de sua família, formada por mais duas mulheres, Gennie Hempstock (sua mãe) e sua avó que é chamada por todos de Velha senhora Hempstock. O fato de a família da garota ser formada por três mulheres poderia ser uma analogia as parcas da mitologia grega que também aparecem, mas sob influência mais nítida, na série literária Percy Jackson e os olimpianos. As mulheres Hempstock passam então a ajudar o garoto em sua futura jornada que começa dias depois quando acontecimentos estranhos começam a acontecer após a morte deste homem, como acidentes ocorridos envolvendo moedas que mais tarde serão decifrados por Lettie como culpa de monstros chamados "pulgas". Tudo se complica ainda mais quando a família do protagonista contrata uma babá de intenções suspeitas para tomar conta da casa e das crianças. Vou parar por aqui porque se não posso deixar escapar spoilers. 

Antes de mais nada esse é um livro que ao nos proporcionar acompanhar a viagem do protagonista até a sua infância, acaba nos fazendo viajar também para dentro de nós mesmos. O primeiro contato que tive com Neil Gaiman foi através do filme Coraline e o mundo secreto e O oceano no fim do caminho é o primeiro livro dele que leio. Porém mesmo assim já consigo ver traços que só a fantasia dele possuem, crianças além de introspectivas bem mais maduras pra sua idade, monstros de tecido, cortes temporais e a presença da natureza como elemento mágico na história, são um conjunto bem marcante de características que me fazem olhar esse livro com muito carinho e admirá-lo ainda mais pela criatividade no enredo.

Também notei que um dos temas mostrados no livro é como cada pessoa lida com perdas e o fato da mente infantil modelar as lembranças, graças a imaginação fértil nessa fase, nos deixa em constante dúvida se o que o personagem principal fez foi juntar o que lia nos livros de fantasia com o que estava acontecendo ou se tudo realmente aconteceu mesmo. Reflexões como o que aconteceu de fato com Lettie ou a natureza da Pulga Ursula ou ainda se o narrador é o próprio autor do livro (e por isso a ausência de um nome para o personagem principal) , além de subjetivas são mais interessantes de se fazer após ler o livro por isso não me aprofundarei. De certo, as pessoas mais fechadas se identificarão muito com algumas situações e se não, ao menos a fantasia encantadora te prenderá na trama (uma das cenas mais fofinhas é quando  o personagem principal "colhe" um filhote de gato do quintal de Lettie e o adota dando-lhe o nome de Oceano). É um livro que li ano passado e com certeza lerei novamente daqui a algum tempo, pois ao reler um livro, sempre vemos algo de novo já que nunca somos os mesmos, pra citar uma frase de O oceano no fim do caminho: "As pessoas mudam tanto quanto os oceanos".

Espero que tenham gostado da resenha e acima de tudo que eu tenha despertado o interesse de vocês pela leitura do livro! Até a próxima! ^^

Por: Joranny.

domingo, 15 de janeiro de 2017

Extraordinário - R. J. Palacio [Uma Lição de Vida]

Para começar, queria dizer que nunca vi um título de livro que combinasse mais com o enredo do que esse. J. R. Palacio realmente nos apresenta uma história extraordinária.

Em geral, acompanhamos a vida de August Pullman, mais precisamente quando, pela primeira vez, ele enfrentará os desafios de uma escola nova. Todos sabem que ser um “novato” não é uma tarefa fácil, ainda mais para August – também conhecido com Auggie – que não é um garoto comum. Veja bem, ele teve uma “anomalia genética” quando ainda estava sendo formado, então nasceu com uma deformação facial que claramente chama a atenção de todos aonde passa. Devido a isso, fez várias cirurgias e não pode frequentar a escola. Até agora. Ele é uma criança normal, como todas as outras. Tem sentimentos, corre, brinca, chora, pula, enfim, age com uma criança normal. O grande dilema é seu rosto. Por ser diferente, Auggie enfrenta diversos tipos de preconceitos no seu dia-a-dia, desde olhares indiretos até comentários maldosos e exclusão. Por isso essa é uma etapa importante em sua vida. É agora que ele irá se incluir na sociedade. 

É uma leitura fácil e simples. Comecei a ler e terminei em apenas um dia. Acho que se me perguntassem uma palavra para definir esse livro, diria que “superação” era a correta. Desde as primeiras páginas do livro percebemos que Auggie é bastante amado pelos seus pais e sua irmã mais velha. Ele tem uma família superprotetora, que está sempre presente nos momentos bons e ruins de sua vida. Também é uma criança bastante “antenada” e inteligente, tanto que no livro temos citações de Star Wars, O Hobbit, as Crônicas de Nárnia, entre outros [tudo isso me fez amar ainda mais o personagem].

Enfim, o livro não mostra só o ponto de vista de Auggie. Ele é dividido em oito partes que são narradas assim: parte um/seis/oito pelo August, parte dois pela Via [sua irmã], parte três pela Summer [sua amiga], parte quatro pelo Jack Will [seu amigo], parte cinco pelo Justin [namorado da Via] e parte sete pela Miranda [amiga da Via]. É uma coisa que achei muito interessante, pois acompanhamos diversos pontos de vistas. Por exemplo, vemos que Via, apesar de amar muito Auggie e ser uma ótima irmã, sofre um dilema interno, pois também é alvo de comentários maldosos – tipo “Aquela é a Olivia. Sabe, é aquela que tem um irmão deformado” –, o que a deixa muito irritada, além de querer mais a atenção dos pais. Temos Jack Will, um personagem que em determinado momento também passa a ser excluído só por ser amigo de Auggie. 

O Vilão da história é o Julian. Sabe, é aquele tipo de pessoa que faz de tudo para ser o “popular” e se acha a última bolacha do pacote. Fica jogando indiretas, fazendo perguntas provocantes para o Auggie e falando mal dele pelas costas. Tanto que no início do ano letivo fizeram um jogo chamado de “praga”, onde ninguém podia tocar no Auggie e, se ocorresse o caso, a pessoa tinha 30 segundos para se limpar [tinha que usar até antisséptico], tudo isso para não pegar a tal “praga”. O garoto teve a cara-de-pau de perguntar para o Auggie: “O que houve com seu rosto? Quer dizer, você esteve em um incêndio ou algo assim? ” Mas, como o mal nunca vence o bem, Auggie foi se enturmando aos poucos e, no fim do ano letivo, já tinha conquistado todo o quinto ano [E o Julian foi “pastar”]

Bem, tinha umas coisinhas que queria falar, mas estou tomando cuidado para não soltar muito spoiler. Então termino essa resenha por aqui. Só vou acrescentar dois trechos do livro, alguns preceitos do Sr. Browne que achei interessante e um informe que está na orelha do livro. Espero que tenham gostado, por favor deixem um comentário e acompanhem o blog. =P

TRECHOS DO LIVRO
“Para mim, o Halloween é a melhor festa do mundo. Melhor até que o Natal. Posso usar fantasia. Usar máscara. Posso andar por aí como qualquer outra criança fantasiada e ninguém me acha estranho. Ninguém olha para mim duas vezes. Ninguém me nota. Ninguém me reconhece” – August Pullman

“O universo não foi legal com Auggie Pullman. O que aquele garotinho fez para merecer essa sentença? O que os pais dele fizeram? Ou a Olivia? Uma vez ela mencionou que um médico disse aos pais dela que a probabilidade de alguém ter a combinação de síndromes que resultou no rosto de Auggie é de uma em quatro milhões. Então isso não faz do universo uma loteria gigantesca? Você compra um bilhete quando nasce. E é só um acaso ter um bilhete bom ou ruim. É questão de sorte.

Minha mente gira com isso, mas então surgem pensamentos mais suaves, como um terceiro violino em uma sinfonia de cordas. Não, não é tudo um acaso. Se fosse, o universo nos abandonaria à própria sorte. E o universo não faz isso. Ele cuida das suas criações mais frágeis de formas que não vemos. Como com pais que amam cegamente. E uma irmã mais velha que se sente culpada por ser humana com relação a você. E um garotinho de voz grave que perdeu os amigos por sua causa. E até uma garota de cabelo rosa que carrega sua foto na carteira. Talvez seja uma loteria, mas o universo deixa tudo certo no final. O universo cuida de todos os seus pássaros. ” – Justin

PRECEITOS DO SR. BROWNE
Não tenha amigos que não estejam à sua altura – Confúcio
Nenhum homem é uma ilha – John Donne
O que é belo é bom, e o que é bom em breve será belo – Safo

INFORME
Para difundir a mensagem de Extraordinário, a autora iniciou uma campanha antibullying no site www.choosekind.tumblr.com, do qual milhares de crianças já participaram.

Acho muito importante difundir mensagens como essas. Acompanhamos o dilema de Auggie, mas sabemos que muitas crianças sofrem bullying por bem menos – a cor da pele, o jeito do cabelo, etc. E assim presenciamos uma sequência de agressões físicas e psicológicas que fazem muito mal para elas. Bem, espero que todos aprendam com a história de August Pullman e cooperem para que nosso mundo se torne melhor. Até a próxima resenha S2. 

Blog Papo Geek: Camila :)

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

O Jogo do Anjo - Carlos Ruiz Zafón

Sinopse: "David Martín nasceu em Barcelona, no primeiro ano do século XX, e logo começou a tomar golpes da vida. Seu pai, segurança do Jornal La Voz de la Industria, morreu assassinado na porta da redação quando David era criança. O jeito para a escrita logo se manifestou, mas as oportunidades nunca estiveram à altura do potencial do rapaz.
               Aos 28 anos, cínico, habituado a vender barato seu talento, vivendo sozinho num lúgubre casarão em ruínas, David se descobre doente. Tem poucos meses pela frente. É quando surge em sua vida Andreas Corelli, um estrangeiro que se diz editor de livros. Sua origem é um mistério, mas sua fala é mansa e sedutora. Ele promete a David muito dinheiro, e sua proximidade parece, de forma inexplicável, devolver a saúde ao escritor.
          Em troca, Corelli não pede pouco: sua encomenda é um livro com potencial de influenciar milhões de vidas. O dilema de David, ao questionar os motivos do soturno editor, é saber se o custo de seu trabalho não será muito maior do que ele imagina"

Bem, eu sei que, para começar, O Jogo do Anjo não é um livro recente, já foi lançado faz alguns aninhos e, sim, a resenha está meio atrasada. Contudo, isso não é motivo de preocupação, pois um bom livro nunca se perde no tempo e deveria ser lido em qualquer momento da história. 

Essa resenha é para aqueles que, assim como eu, só tiveram a oportunidade de ler ou só se depararam com uma das obras de Zafón recentemente.

Bem, o livro é dividido em três atos e um epilogo. [Por onde começar...] Em geral, se você espera se emocionar, rir, chorar, as vezes até sofrer e ficar com o coração apertado acompanhando o protagonista David Martín em seus caminhos ao longo da vida, esse é o livro certo. Admito que, a princípio, lendo a sinopse, não achei que esse livro fosse me encantar tanto. Então, se você também tem um pouquinho de dúvida, pode começar a ler, não vai se arrepender.

O Primeiro Ato – A cidade dos Malditos – nos mostra Martín ainda jovem e inexperiente, sofrendo suas desilusões e, literalmente, apanhando da vida. Conhecemos logo nas primeiras páginas Dom Basilio Moragas e Dom Pedro Vidal, personagens que irão acompanhar o protagonista em toda sua trajetória neste primeiro momento.

Dom Pedro Vidal era o benfeitor de Martín, sempre presente na sua vida, o ajudando a superar as dificuldades após a morte de seu pai. Martín o via como uma alma generosa no mundo, argumento dado ao fato de nunca saber o verdadeiro motivo da “preocupação” que Vidal tinha com ele. Ainda no Primeiro Ato é revelado que Vidal tem um sentimento de culpa, já que o assassinato do pai de Martín se tratou de puro engano, pois tudo não se tratava de uma emboscada destinada a Vidal.

Temos Cristina, o grande amor de Martín, mas que acaba se casando com Vidal, argumentando que tanto ela quanto Martín têm uma dívida eterna com o benfeitor. Não posso dizer muita coisa sobre ela, aliás é um personagem que não me chamou muita atenção.

Temos o primeiro contanto com Andreas Corelli, um editor misterioso de Paris, na qual tem um interesse enorme no protagonista. A grande trama de mistério do livro está relacionada a esse personagem que ganha mais destaque no segundo e terceiro ato, momento no qual Martín passa a trabalhar em uma obra sob encomenda para o editor.

No Segundo Ato – Lux Aeterna – é o momento em que a história fica, não sei nem encontrar a palavra certa, “eletrizante”. Aqui é onde o mistério e o suspense ganham totalmente destaque e fazem o leitor devorar páginas avidamente. Bem, e quando descansamos do mistério e, ufa, damos uma pausa para o coração parar de desacelerar, nos deparamos com diálogos que fazem as lagrimas brotarem de tanto rir.

Aqui encontramos uma nova personagem: Isabella que, para confessar, está entrando para a lista de melhor personagem que conheci em toda minha vida. Engraçada, inteligente, esperta, com uma pitada de ironia e sarcasmo, mas com um coração do tamanho do mundo. Ela é responsável pela maior parte do humor da história.

A parte do mistério não irei comentar, pois tem coisas que não podem ser ditas em uma resenha, só lendo o livro mesmo. Trabalho que deixo para vocês leitores.

A última coisa que irei revelar do Segundo Ato, é que Martín após investigar o antigo proprietário da casa onde reside, Diego Marlasca, resolve cortar relações com Corelli e fugir para Paris com Cristina, isso mesmo, aquela que se casou com Vidal. Mas as coisas não dão lá muito certo e Cristina acaba desaparecendo.

O Terceiro Ato – O Jogo do Anjo – já começa trazendo uma onda de tristeza. Na realidade, o terceiro Ato, como um todo, é uma tristeza sem fim. Logo nas primeiras páginas nos deparamos com a morte do Sr. Sempere, um personagem que não mencionei, mas que está presente em todo o livro e é como se fosse o segundo pai de Martín. 

Depois, Martín resolve ir atrás de Cristina em um sanatório. Está certo que não me simpatizei muito com ela, mas esses capítulos foram tensos e Cristina acaba morrendo. Pedro Vidal, o benfeitor de Martín, acaba se suicidando. Temos também uma perseguição policial atrás do personagem principal e, por fim, um incêndio na casa da Torre causada por Diego Marlasca.

David Martín acaba o livro indo embora de Barcelona. Após isso, inicia-se um epilogo, 15 anos após sua ida. Nele vemos o relato que Martin não envelheceu nem um pouquinho e vive a vida como um nômade, sem se apegar a ninguém ou a lugar algum. Por fim, resolve comprar uma casa simples de frente para o mar.

E... Bem, estou dando muito spoiler! Só posso dizer que tem algo surpreendente, diria eu, no final. Mas, eu deixo esse gostinho de surpresa para vocês.

No geral, é um ótimo livro. Acompanhamos os passos de David Martín desde o inicio de sua vida, passando pela infância, a perda do pai, quando seu coração foi quebrado em mil pedaços por causa da Cristina, pelas desilusões que a literatura lhe trouxe e pelos poucos, mas grandes amigos, que sempre o acompanharam e deram força para que superasse seus desafios.

A unica decepção que tive foi relacionado ao personagem Andreas Corelli. Afinal, quem era ele? Um deus? Um demônio? Um ente sobrenatural?

A escrita de Zafón é perfeita. Tudo bem descrito, principalmente as partes de suspense. Ele cria personagens que tem vida, não é só um herói perfeito que vem para salvar o mundo, é um ser "real" que tem qualidades e defeitos como qualquer ser humano. Tenho certeza que, a partir de hoje, Carlos Ruiz Zafón e seus personagens David Martín e Isabella Gispert estarão sempre em minhas lembranças e, se possível, em parte de minha alma. 

Termino o resenha com um trecho do livro: "Acreditava que Deus, ou o que quer que seja que nos trouxe para esse mundo, vivia em cada uma de nossas ações, em cada uma de nossas palavras e se manifestava em tudo o que nos fazia ser algo além de simples figuras de barro. O sr. Sempere acreditava que Deus vivia um pouco, ou muito, nos livros e por isso dedicou a vida a partilhá-los, a protegê-los e a garantir que suas páginas, como nossas lembranças e nossos desejos, não se perdessem jamais, pois acreditava, e me fez acreditar também, que, enquanto restar uma só pessoa no mundo capaz de lê-los e vivê-los, haverá um pedaço de Deus ou de vida."

Nota: 4,5/5,0

Bem leitores, essa foi minha primeira resenha! Espero que tenham gostado. 
Papo Geek: Camila =P